Negro de alma branca!
Clicia Pavan


O poeta não escreve só versos de amor
Meus versos são a voz calada dos meus irmãos
Um grito de dor, fome e angústia
Por não terem:
Pão, emprego, saúde e "Dignidade"



Sua presença perturbava, 
estava escrito na fronte:
Era um negro de valor!
Tinha a negrura da cor,
mas a brancura do amor!

Sua presença perturbava,
não negava sua fé..
Sua raça trazia no semblante
 a nobreza dos ancestrais!
  Era filho de Xangô, trazia no coração
a nódoa que o tempo não apagou...
A escravidão!



Negro de alma branca,
  se tinha a liberdade, 
para ele era apenas um conceito.
Sua vida, a triste servidão...
O corte da cana...
Calado ele pensava : 
Mas a vida é um picadeiro.
Continuo no cativeiro!

Sua presença perturbava
 ao discurso do homem sisudo surdo...
Calado ele escutava, ele pensava:
-O senhor tem noção
 que me insulta com discursos?

Tenho a carne esfarrapada
 por discursos esfarrapados!
Do direito eu não sei direito...
Noção do que eu tenho de direito,
 só escuto em tempo de eleição
 que está na Constituição...



Noção eu tenho que continuo com:
Pouco ganho, pão e chão.
Mas beijo-lhe as mãos, Senhor!
A morte nos nivela por igual...!

Sua presença perturbava
Mas ele ali continuava
calado chorava...
Chorava pelo corpo branco
 de alma negra, tão letrado...
Tão vendável, democrata de partido...
Sem democracia com o país.
Pobre alma,sem distinção,
 rouba por distração,
A nação...!

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Página editada em 25/08/2006.